Sindicatos e Justiça do Trabalho defendem revogação da reforma trabalhista; indústria rebate
Sindicatos e Justiça do Trabalho defendem revogação da reforma
trabalhista; indústria rebate
Tema foi
debatido em comissão geral da Câmara dos Deputados
Paulo Sérgio/Câmara dos
Deputados
Bohn Gass: “Não há o que
comemorar, todos os números do mercado estão ruins"
Sindicatos
de trabalhadores, juízes e procuradores do Trabalho defenderam a revogação da
reforma trabalhista de 2017, em comissão geral no
Plenário da Câmara dos Deputados sobre diagnóstico, as desigualdades e as
perspectivas do mundo do trabalho no Brasil. No debate, nesta terça-feira (3),
a Confederação Nacional da Indústria (CNI) defendeu a reforma.
O debate
foi solicitado pelo deputado Bohn
Gass (PT-RS), em razão do Dia do Trabalho (1º de Maio). Ele também
defendeu revogação da reforma trabalhista (Lei 13.467/17). “O que vejo é retrocesso.
Muitas conquistas obtidas com muita luta ao longo da história estão sendo
destruídas”, afirmou. “São 27,25 milhões de brasileiros em situação de
desalento, desemprego ou trabalhando menos do que o desejado”, completou. E
acrescentou que dos 96 milhões de pessoas ocupadas, 1/3 são informais – ou
seja, não têm proteção social, não contribuem para a previdência e não vão se
aposentar. “Metade da população economicamente ativa encontra-se sem algum tipo
de atividade econômica com proteção. O nome disso é exclusão”, resumiu,
ressaltando que mulheres e negros são os mais atingidos.
Na
avaliação do parlamentar, o quadro não é fruto da pandemia de Covid-19, já que
os dados não diferem muito dos anteriores à pandemia, em 2019. “Não foi a
pandemia, foi a reforma trabalhista, o congelamento do salário mínimo, foi o
corte das políticas sociais, o corte dos investimentos públicos, que prejudicou
a indústria, foi o desmonte do Estado brasileiro, foram as privatizações a
preço de banana”, citou. Ele defendeu ainda a aprovação pela Casa de política
de reajuste do salário mínimo acima da inflação, e não apenas a inflação. O
líder do PT, Reginaldo Lopes (MG), apoiou o reajuste do
salário mínimo com ganho real a partir de 2023.
Presidente
da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), Luiz
Antônio Colussi também defendeu a revisão da reforma trabalhista e discussão do
tema pelos candidatos às eleições presidenciais. “Não apenas a revisão, mas a
própria revogação”, frisou. Para ele, a reforma trabalhista gerou precarização
das relações de trabalho, dificultando o acesso dos trabalhadores ao Judiciário
e retirando direitos sociais.
Visão da
indústria
Gerente executiva da Relação do Trabalho da Confederação Nacional da Indústria
(CNI), Sylvia Teixeira de Sousa, por sua vez, defendeu a reforma trabalhista de
2017. “Nosso País precisa de um ambiente de negócios que contribua para a
expansão das atividades produtivas e das oportunidades de trabalho formal. E
nesse sentido a modernização da legislação trabalhista de 2017 foi e continua
sendo uma peça fundamental nesse desafio de avanços que precisamos para tornar
nosso País inovador, dinâmico e capaz de produzir desenvolvimento econômico e
gerar renda e trabalho formal para o brasileiro“, opinou.
“Não houve
redução ou extinção de direitos trabalhista, mas aperfeiçoamento da lei,
considerando as novas formas de trabalhar e de produzir”, completou. “Por meio
de amplo debate legislativo, foram regulamentados a negociação coletiva e o
teletrabalho”, acrescentou ainda. Segundo ela, a negociação coletiva tem sido bem
avaliada pela indústria após a reforma e houve queda nos litígios trabalhistas
a partir da lei, com a redução em mais de 40% no número de processos
trabalhistas nas varas do trabalho entre 2016 e 2021. Na avaliação dela, a lei
incentivou o diálogo e a resolução de conflitos extrajudiciais. Para ela, “a
informalidade é a verdadeira precarização do trabalho”.
Diretora
executiva do Instituto Millenium, Marina Helena Santos também defendeu a
reforma trabalhista e a liberdade econômica – “regras claras e fáceis, que
permitam que as pessoas empreendam”. Para ela, a reforma trabalhista deve ser
aprofundada e deve ser feita reforma fiscal, para reduzir a alta carga
tributária.
Menos
acordos coletivos
Defensor da revogação da reforma trabalhista, o diretor-técnico do Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Fausto Augusto
Júnior, contestou a ideia de que houve aumento da negociação coletiva após a
reforma trabalhista. “A gente tem assistido à uma redução dos acordos e convenções
coletivas. Em 2016, nós tivemos 47 mil acordos e convenções, coletivas. Em
2012, não chegamos a 35 mil acordos negociados. Ou seja, menos de 12 mil
negociações aconteceram no Brasil após a reforma trabalhista”, disse.
O diretor
do Dieese salientou que a reforma trabalhista não diminuiu a informalidade e
gerou empregos, como prometido; ao contrário, gerou a precarização do trabalho,
ao que se soma um cenário de aumento da inflação e da cesta básica e queda da
renda do trabalhador. “Nós estamos hoje com uma renda média do trabalhador hoje
de R$ 2.377, 8% menor do que 2019, mas 54% dos trabalhadores ganham até R$
1.500”, completou.
A
revogação da reforma trabalhista também foi defendida entidades sindicais como
a Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central dos Trabalhadores do Brasil e
Intersindical Central da Classe Trabalhadora. Segundo o secretário Nacional de
Assuntos Jurídicos da CUT, Valeir Ertle, “a reforma não gerou emprego, nem
renda, só desemprego, desamparo e desalento”. Na visão dele, foi provado não
apenas no Brasil como no mundo que a reforma não traz nenhum benefício para os
trabalhadores.
Inspeção
do trabalho
No debate, o diretor Adjunto de Política de Classe do Sindicato Nacional dos
Auditores Fiscais de Trabalho (Sinait), Renato Bignami ressaltou que o sistema
federal de inspeção do trabalho, responsável pela garantia do cumprimento da
lei trabalhista, vem sofrendo um “rebaixamento substancial, com perda de poder
de atuação” e defendeu o investimento nesse sistema para melhor regulação e proteção
do ambiente de trabalho.
Bignami
criticou o fim do Ministério do Trabalho, em 2019. Segundo ele, embora o órgão
tenha sido recomposto, “não foi feito com as bases anteriormente firmadas”. Ele
acrescentou que a carreira dos auditores fiscais do trabalho também vem
sofrendo enorme corrosão, e desde 2013 não há recomposição dos quadros. Hoje há
menos 2015 auditores fiscais em atividade, sendo que já foram 3900 no final dos
anos 1990.
Desigualdade
Economista, professora e pesquisadora do Centro de Estudos Sindicais e de
Economia do Trabalho da Unicamp, Marilane Oliveira Teixeira disse que o cenário
é de aumento das assimetrias entre homens e mulheres e entre pessoas negras e
não negras, além de queda dos rendimentos, ampliação da extrema pobreza e fragilização
das instituições públicas, como Ministério do Trabalho, e dos sindicatos. Ela
disse que cabe ao poder público criar oportunidades de trabalho e estimular com
recursos públicos a geração de ocupações e defendeu um programa nacional de
trabalho para todas as pessoas.
Procuradora
do Ministério Público do Trabalho, Melicia Alves Mesel defendeu políticas
públicas trabalhistas específicas para mulheres e negros e para a população
indígenas. De acordo com ela, 92% dos trabalhadores domésticos são mulheres, sendo
64% mulheres negras. Segundo ela, não se trata de falta de qualificação, já que
as mulheres têm nível instrucional superior ao dos homens. Ela pediu ainda que
a Câmara não retroceda cotas para pessoas com deficiência. “As empresas só
empregam pessoas com deficiência quando são fiscalizadas ou atuadas por
auditores do trabalho”, apontou.
Professora
da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense, Hildete Pereira de
Melo defendeu, por sua vez, a discussão de políticas públicas pela Casa que mensurem
o trabalho doméstico e de cuidado não remunerado feito pelas mulheres. “A gente
tem meios de mensurar esse tipo de trabalho, para dizer que ele vale”, afirmou.
Trabalhadores
do campo
Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores Assalariados e
Assalariadas Rurais (Contar), Gabriel Bezerra Santos também defendeu a
rediscussão da reforma trabalhista e a retomada dos direitos dos trabalhadores
do campo. De acordo com ele ele, em torno de 60% dos mais de 4 milhões dos
trabalhadores do campo não têm carteira de trabalho assinada, sendo que alguns
estados o índice de informalidade ultrapassa 90%. “De 1995 a 2020, mais de 55
mil trabalhadores do campo foram resgatados de trabalho escravo”, acrescentou.
E chamou a atenção ainda para a exposição desses trabalhadores aos agrotóxicos.
“Novas
ameaças”
Diretor Legislativo da Associação Nacional das Procuradoras e dos Procuradores
do Trabalho, Antônio de Oliveira Lima alertou para a possibilidade de novas
reformas pelo governo, com a discussão, por exemplo, da retirada do repouso aos
domingos. Além da erradicação do trabalho escravo, ele citou como desafios no
Brasil o trabalho infantil, o assédio e a inflação alta corroendo os salários.
E defendeu o investimento para que os trabalhadores conheçam seus direitos para
lutar por eles e se sindicalizar, como forma de reação às ameaças ao trabalho.
Presidente
do Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas do Estado (Fonacate), Rudinei
Marques, por sua vez, quer “evitar que a reforma trabalhista seja importada para
dentro do serviço público” por meio da Proposta de Emenda à Constituição (PEC)
32/20, do Poder Executivo.
Participação
dos deputados
Durante a comissão geral, o deputado Vicentinho
(PT-SP) criticou a “política destrutiva e criminosa que prejudica a
classe trabalhadora”.
O líder do
PCdoB na Câmara, deputado Daniel Almeida (BA), apoiou as críticas. “Não
há o que comemorar neste ano, daí os protestos no Dia do Trabalho pela
revogação das reformas trabalhista e da Previdência”, disse.
O debate
não contou com a participação de deputados da base governista.
Reportagem
- Lara Haje e Ralph Machado
Edição - Wilson Silveira
A
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